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Arioso e Fuga para órgão

Sobre este Arioso

Intencionando ser um prelúdio atemático puramente harmônico, foi acrescentada a parte melódica sobre o baixo ostinato para dar maior expressividade à riqueza harmônica.

Um prelúdio harmônico necessita de uma clara condução melódica do baixo (à semelhança do cantus firmus). A primeira impressão que se tem é que Bach explorou todos os recursos possíveis, mas encontrei uma solução ousada em uma condução cromática, permitindo o amplo uso de sétimas e dominantes individuais. Veja aqui o projeto.

A estrutura original tem 31 compassos, mas foi acrescentado um breve início cromático para ambientação e um pedal inicial para marcar o tom, que é repetido no final. Este é o único detalhe que torna a música tonal.

Somente após o total planejamento do ostinato a 3 vozes (polifonia linear) é que a melodia foi acrescentada. O objetivo foi compor um grande crescendo. A melodia, por ser atemática, precisa ser criada de modo a constituir frases apoiadas em graus conjuntos e visando alcançar um ponto culminante claro. Sem estes cuidados, corre-se o risco de perder a unidade. A melodia foi dividida em 3 partes (seguindo aproximadamente a proporção áurea). A primeira parte, piano, teria uma voz apenas, a segunda 2, e a terceira mais livre.

A primeira parte é a mais complicada, pois é difícil explicar uma harmonia complexa. O começo está num registro discreto, mas o primeiro início já é uma segunda aumentada (!), o que expõe o caráter dramático da obra.

A entrada da segunda voz foi antecipada alguns compassos para permitir um acréscimo de tensão. Entretanto, a segunda seção é claramente marcada pela pausa, que permite ao organista uma mudança de registros para aumento de volume.

A terceira parte são os 2 últimos pedais (em proporções áureas ~8:13, na verdade 9:13), também marcados pela última mudança de registro. O ponto culminante (compasso 30) divide o pedal da dominante em duas seções áureas (~3:9). Este acorde é tão surpreendente, que não precisa de apoggiaturas ou outras dissonâncias para chamar atenção.

As regras harmônicas são tradicionais, excetuando-se a vagueza tonal. Quintas aumentadas, estranhas ao estilo barroco, são conseguidas através de apoggiaturas muito expressivas. Dissonâncias também são valorizadas através de 7a. paralelas, retardos nas resoluções, e notas de passagem cuidadosamente escolhidas. A pausa tem caráter de dissonância quando suspende a resolução de um acorde de sétima (compassos 18 e 24). Observe que uma das dissonâncias mais fortes é uma quinta perfeita (!!!) no compasso 22, pois se trata de uma apoggiatura. Também é notável a presença de um cluster no compasso 35!

Terminado o trabalho, isto é um prelúdio barroco ou romântico?

Quem é José Geraldo?

É um dos nossos gênios desconhecidos. Organista da Basílica de Lourdes em Belo Horizonte.

Certa vez comentei que "se Bach vivesse hoje, seria um pop star revoltado...". "Talvez - respondeu ele - mas poderia também não ser ninguém".